sábado, 29 de maio de 2021

Comentários Eleison: Quatro Preocupações

 

Por Dom Williamson

Número DCCXXIII (723) – 22 de maio de 2021

 

QUATRO PREOCUPAÇÕES

 

A Igreja está atualmente em uma grande confusão,

Que a necessidade de caridade seja nossa principal conclusão.

 

Um leitor escreve: “Excelência, por favor, poderia esclarecer quatro pontos de desacordo com o senhor que têm surgido repetidamente nos círculos católicos tradicionais?”. É claro que posso! Mas, que reine a caridade!

 

1 Diz-se que o senhor apoia e promove o “Poema do Homem-Deus” de Maria Valtorta, que conteria graves erros contrários à Fé e muito conteúdo escandaloso.

 

Certamente, apoio e promovo este trabalho de Maria Valtorta (1897–1961), porque estou convencido de que é um grande presente de Nosso Senhor ao nosso pobre mundo moderno, a Sua resposta especial à eletrônica, ao cinema, à televisão e à Internet que estão levando milhões e milhões de almas para longe de Deus e conduzindo-as para a fantasia e para o Inferno. Os dez volumes no original em italiano apresentam um quadro completo da vida, morte e ressurreição de Nosso Senhor em detalhes tão realistas que fazem os Evangelhos saltarem das páginas, por assim dizer. Porém, não é em todos os leitores que ocorre esse efeito; na verdade, muitos católicos sérios ficam indiferentes em relação ao “Poema”. Por outro lado, desde a sua primeira publicação, na década de 1950, o "Poema" tem produzido enormes frutos bons, com um aumento do amor e do conhecimento de Deus e com conversões sérias em todo o mundo. Inúmeras almas deverão ao “Poema” sua salvação eterna.

 

Quanto às acusações de erro doutrinário e de conteúdo escandaloso, não se deve levar a sério nenhuma delas. Com a segurança de um cabrito-montês que dança entre os picos das montanhas, essa leiga italiana acamada dança entre as alturas da teologia trinitária de uma maneira dificilmente explicável a não ser por inspiração divina.

 

E quanto ao “conteúdo escandaloso”, é preciso recordar Tito I, 15: “Para os puros, todas as coisas são puras, mas para os corruptos e incrédulos, nada é puro; suas próprias mentes e consciências estão corrompidas”. Muitos que acusam o “Poema” de escândalo estarão apenas condenando a si mesmos. Queira Deus que passem a enxergar com clareza!

 

2 Diz-se que o senhor apoia aparições marianas problemáticas não aprovadas que sustentam o Novus Ordo.

 

Note-se, em primeiro lugar, que não poderia haver falsas aparições marianas se não houvesse algumas autênticas para o Diabo imitar. É tudo uma questão de “provar os espíritos para ver se são de Deus” (I Jo IV, 1). Ora, normalmente é responsabilidade dos pastores católicos (Bispos) realizar essa tarefa em nome das ovelhas católicas, porque ela pode ser bastante delicada. Ademais, ao fazê-lo, preferem equivocar-se por excesso de prudência. Mas quando os tempos são tão anormais como o são nos dias de hoje, e a maioria dos Bispos é modernista, como estes podem começar a realizar o trabalho católico de “provar os espíritos”? Quantos deles ainda acreditam no Diabo? E, assim, as ovelhas católicas hoje estão obrigadas a realizar essas tarefas por conta própria, não mais do que o necessário, mas pelo menos algumas. O verdadeiro problema hoje em dia são as muitas almas que não querem reconhecer as provas objetivas, ou não conseguem mais pensar nelas, que Deus fornece em abundância quando deseja que se creia n’Ele, como, por exemplo, em Garabandal ou Akita.

 

3 Diz-se que o senhor encoraja as almas a assistir à Missa Nova se sentirem que poderão beneficiar-se dela.

 

Em abstrato, a Missa Nova é uma abominação, o ato central de adoração da nova religião modernista, razão pela qual o Arcebispo Lefebvre estabeleceu uma regra geral de não comparecimento. Mas, no concreto, uma ou outra Missa Nova em particular não é automaticamente inválida, caso em que pode acontecer que venha a ser espiritualmente proveitosa para alguém, ainda que essencialmente continue sendo um cavalo de Tróia projetado por inimigos conhecidos de Deus para destruir a Igreja Católica por dentro. Toda vez que é celebrada ou que se assiste a ela, essa missa injeta em cada participante o veneno de uma compreensão falsa das relações entre Deus e o homem.

 

4 Dizem que o senhor acredita que Francisco é um impostor que não deveria ser mencionado no Cânon da Missa.

 

Por mais inadequado que Francisco seja como Papa, eu pessoalmente o nomeio no Cânon em cada Missa que celebro, porque a Igreja Católica não pode sobreviver sem seu Papa. Nenhuma organização sobrevive sem um líder que seja reconhecido como tal, e o Papa atualmente reconhecido como tal é Francisco.

 

Kyrie eleison.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Comentários Eleison: As Sinfonias de Beethoven

 

Por Dom Williamson

Número DCCXXII (722) - 15 de maio de 2021

 

AS SINFONIAS DE BEETHOVEN

 

Devemos valorizar o melhor da cultura dos homens brancos.

Não há outra à sua altura, e não pode morrer!

 

Para os leitores que conhecem as diversas sinfonias, pode haver aqui um pouco de satisfação pelo reconhecimento. Para os que não as conhecem, que tenham aqui um pouco de incentivo para conhecê-las.

 

1. Em 1800, Beethoven já havia escrito muitas músicas, mas eis a sua primeira Sinfonia. Dir-se-ia que ainda é jovem, mas o aprendiz de Haydn e Mozart já é um maestro. Melodia, harmonia, ritmo, impulso e humor, ele tem de tudo! Um espírito alegre chega ao campo de batalha, com promessa de armas musicais que raramente se vê empunhar.

 

2. Dois anos mais tarde, o jovem compositor (32) é afetado pela surdez. No entanto, esta Sinfonia não mostra nenhum traço de desespero. Em vez disso, mostra como o músico cunhará seu sofrimento em alegria e triunfo para seus futuros ouvintes. O maestro estende ao máximo suas asas, obtém da dor da surdez uma força ainda maior.

 

3. A Sinfonia número 3 faz jus ao seu apelido, a “Eroica”. Inspirada em Napoleão, apresenta a vida e a morte de um grande herói. Musicalmente, sua riqueza e seu poder de emoção abrem uma nova linguagem, uma nova era da música, na qual o homem está doravante no centro. Pronto para a batalha, seguem avante os passos do herói. Para a morte, mas elevando-se, seu espírito cavalga.

 

4. A “Eroica” de 1803 desencadeou do Beethoven agora totalmente maduro uma série de obras-primas populares. A quarta sinfonia de 1806 é uma delas: rica, variada, profunda, cheia de pensamento e beleza, de vida e alegria, e, no entanto, firmemente organizada para dar seu golpe. Rege agora desconhecidos reinos que se abrem. Com paixão, variedade e ordem próprias.

 

5. "A Quinta de Beethoven" é a mais conhecida das nove sinfonias, porque apresenta de forma mais dramática a profunda luta de sua alma para aceitar seu destino. Aqui está o homem moderno, em 1807, esforçando-se para submeter ao destino a sua própria vontade, em meio ao triunfo revolucionário. Mas as tempestades abalam a estrutura do universo. O homem deve lutar, e pela vitória clamar.

 

6. Beethoven amava o campo, onde bebia da beleza e da grandeza de Deus. Inspirou todos os cinco movimentos da adorável Sinfonia “Pastoral”, de 1808, a Sexta. Sua calma contrasta notavelmente com a tensão da Quinta Sinfonia, imediatamente anterior. Um passeio pelo campo, ao lado de um riacho. Então, camponeses a dançar, uma tempestade, um sonho pastoral.

 

7. A Sétima, de 1812, é outra das favoritas. Quatro movimentos de uma grandeza olímpica, mas nunca remotamente fria ou desumana. O último selvagem movimento nos recorda as lutas internas de Beethoven, mas ainda é perfeitamente planejado e controlado. Um discurso majestoso, trenódia da alma. Nobre em cada parte e no todo.

 

8. A Oitava, também de 1812, é outra que alivia a tensão, remontando às sinfonias anteriores às heroicas e ao humor de Haydn, mas Beethoven não pode abandonar a riqueza e a organização de seu estilo maduro. O segundo movimento é pura ópera cômica. Do alto, o herói vem à terra, recordando tempos idos, com alegria rítmica.

 

9. A célebre Nona Sinfonia, é chamada “Coral” por causa do coro que Beethoven introduziu para musicar um querido Hino à Alegria. Três movimentos monumentais preparam o cenário, mas, para Beethoven, é a alegria que deve ter a última palavra. Fatalidade, destino, céus destroçados escancaram-se. Mas o ritmo, a beleza, a alegria dos homens sobreviverão.

 

Kyrie eleison.

 

 

 

 

terça-feira, 11 de maio de 2021

Comentários Eleison: O Quarto de Milênio de Beethoven

Por Dom Williamson

Número DCCXXI (721) - 8 de maio de 2021

 

O QUARTO DE MILÊNIO DE BEETHOVEN

 

De Deus, Beethoven tinha um poderoso senso,

Que dá intensidade à sua melhor música.

 

Por que os filmes exercem tanta influência nas pessoas? Porque até os católicos possuem natureza humana, e a natureza humana precisa de música, de histórias e de imagens; e os filmes combinam essas três coisas. Por isso, quando se criou Hollywood no início do século XX, os inimigos de Deus imediatamente entraram em ação para certificar-se de que estariam no controle por causa da enorme influência que sabiam – mais do que os amigos de Deus parecem saber – que teria sobre as mentes e os corações das pessoas. Pode-se até dizer que esses inimigos criaram Hollywood. De qualquer forma, que pelo menos os pais católicos percebam como é importante saber e escolher que música seus filhos ouvirão, e que proíbam absolutamente a música selvagem em casa.

 

Trata-se de uma tarefa árdua, porque a partir do momento em que as crianças colocam um pé fora de casa, encontrarão uma cultura selvagem que envolve tudo, e, especialmente, a pressão dos colegas da selva. As crianças devem caminhar com seus próprios pés. Os pais devem dar bom exemplo e não escutar música desordenada, sem forma nem valores morais. Frequentemente, a primeira porta pela qual o diabo entrará nas almas de seus filhos é pela má música, e o resto da decadência se seguirá. Com base no uso que a Madre Igreja faz da boa música na Missa, não conseguirão os pais católicos adivinhar o uso que o diabo fará da má música se não houver ninguém que vigie a entrada da alma de seus filhos? A música é uma linguagem única da alma, e tem uma influência única na vida das pessoas.

 

Em 16 de dezembro do ano passado foi o 250º aniversário do nascimento de Ludwig van Beethoven, o que remete ao valor e à importância da boa música. Ora, os amantes da música objetarão imediatamente que sua música é frequentemente muito tempestuosa, e que preferem compositores anteriores, de períodos mais tranquilos. É justo. E se eles realmente dominam os compositores anteriores, que deem aos seus filhos o que eles mesmos possuem. Mas a grande vantagem de Beethoven é que ele viveu na época (1770-1827) da Revolução Francesa (1789-1794), de modo que nasceu sob o Antigo Regime, o antigo estilo de vida, mas viveu seus anos de maturidade no período revolucionário, e seus últimos anos depois do Congresso de Viena (1815), quando a Europa tentou domar as forças revolucionárias liberadas. Mas, como na música de Beethoven, essas forças mal foram domadas; na verdade, elas moldaram o mundo cada vez mais desde então, de modo que inúmeros jovens dos dias de hoje não sentem nada pela música anterior a Beethoven, enquanto no Maestro de Bonn podem sentir claramente o surgimento do caos de seu próprio mundo.

 

No entanto, a música de Beethoven não é apenas nem principalmente caótica. A velha ordem ainda continua em sua estrutura como estava na formação dele, e permite que uma mente musical poderosa dê forma e controle os sentimentos apaixonados; e eis porque a paixão arquitetônica, ou arquitetura apaixonada, de Beethoven é tão singular. De maneira geral, as obras-primas de sua maturidade expressam mais sentimentos do que qualquer um dos compositores mais tranquilos que o precederam, mesmo quando expressam mais ordem do que qualquer um dos compositores mais selvagens que vieram depois dele. Tal como de Shakespeare, que viveu entre o período medieval e o moderno, pode dizer-se que sua estatura como artista mundial se deve à sua combinação da teologia medieval com a psicologia moderna, assim também, falando de maneira geral, a grandeza de Beethoven pode ser atribuída à combinação de uma cabeça do século XVIII com um coração do século XIX.

 

Ele escreveu muitos tipos de música, principalmente uma ópera, duas Missas, cinco concertos para piano, nove sinfonias, dez sonatas para violino, dezessete quartetos de corda e trinta e duas sonatas para piano, mas as músicas mais populares e mais conhecidas de todas são, sem dúvida, as nove sinfonias, onde a orquestra completa e a liberdade de invenção deram as rédeas soltas ao seu gênio. Para um ouvido não familiarizado, as sinfonias podem soar todas iguais, mas quanto mais se as conhece, mais difícil se torna dizer quais são as que mais se parecem, de tão diferentes que são. As palavras escritas não podem dizer o que a música diz, elas podem apenas tentar descrevê-la, mas em outro número destes “Comentários” se tentará descrever as sinfonias. Não se deve permitir que a cultura incomparável dos homens brancos europeus pereça! Ela transmite Deus.

 

Kyrie eleison.



quarta-feira, 5 de maio de 2021

Comentários Eleison: Desintegração do Papa - III

 

Comentários Eleison – Por Dom Williamson

Número DCCXX (720) – 1 de maio de 2021

DESINTEGRAÇÃO DO PAPA – III

 

Estão a ensinar que a política não é religiosa?

Então não se travarão as batalhas de Cristo Rei.

 

Como os “Comentários” de duas semanas atrás elogiaram a análise do Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, o Pe. David Pagliarani, publicada em 12 de março sobre a impensável loucura do “pensamento” do Papa Francisco, então ninguém precisará concluir que os “Comentários” desta semana estariam tentando minar essa mesma Fraternidade caso continuem a dar algumas sugestões ao mesmo Superior Geral. Em todos os idiomas, haverá alguma expressão proverbial da distância entre as palavras e as ações. O Pe. Pagliarani está falando corretamente. Os americanos diriam que tudo o que ele precisa fazer agora é andar no caminho certo, de acordo com seu discurso.

 

Pois, de fato, se o Superior Geral realmente deseja o bem da Fraternidade da qual é Superior, ele desejará agir como o Fundador dessa Fraternidade agiu, porque seguir um Fundador é servir à sua fundação, ao mesmo tempo que contradizê-lo em palavras ou ações é contribuir para desfazer sua fundação. Ora, o que distinguia o Arcebispo Lefebvre de seus milhares de confrades Bispos durante e após o Vaticano II? Ele sempre disse que algumas centenas saíram do Concílio ainda decididos a defender a verdadeira Fé Católica, mas que na década de 1970 o Papa Paulo VI conseguiu essencialmente quebrar a resistência deles, especialmente pelo mau uso de sua autoridade. Assim, os Bispos puseram o Sistema acima da Verdade, enquanto o Arcebispo pôs a Verdade acima do Sistema.

 

Pois bem, ao declarar em sua análise de 12 de março que o Papa Francisco está praticamente abandonando toda a filosofia e toda teologia católicas, o honorável Pe. Pagliarani mostra que tem um verdadeiro conhecimento da Verdade e do perigo terrível em que ela se encontra hoje. Ora, o que o Arcebispo fez quando, nos anos de 1970 e 1980, os Papas Paulo VI e João Paulo II colocaram a Fé em perigo de maneira similar? Ele colocou o Sistema antes da Verdade? Ou acaso não fez o que deveria fazer consagrando quatro Bispos, mesmo fora do Sistema, para assegurar a sobrevivência prática de seu discurso heroico? Posso sugerir duas coisas que o senhor, Pe. Pagliarani, poderia fazer, uma pela Igreja e outra pelo estado, para elevar sua caminhada ao nível de seu discurso?

 

Para a Igreja, ajude-a enormemente, assim como o fez o Arcebispo (e como você mesmo fez com sua condenação absolutamente clara em fevereiro de 2019 da Declaração Conjunta do Papa com o Grande Imam de Al-Azhar), não apenas com a fidelidade à Doutrina Católica, mas também evitando inequivocamente o Sistema da Igreja, atualmente ainda atolado na doutrina conciliar, e susceptível a contaminar qualquer sacerdote ou líder da Fraternidade que flerte imprudentemente com tais instrumentos objetivos de Belial. Com relação aos oficiais da Igreja gravemente equivocados, cortesia e caridade sim, mas contato amigável, de maneira nenhuma! Pois não pode haver maior caridade para com esses traidores objetivos, que se põem em risco de ter uma eternidade terrível, do que fazê-los entender como precisam converter-se. E o senhor, Pe. Pagliarani, tem o dever de conduzir seus próprios sacerdotes para longe deles, de tão perigosos que são!

 

E para o estado, da mesma forma. Praticamente todos os estados do mundo estão atualmente sob o controle disfarçado dos inimigos bimilenários de Deus e do homem, a quem Deus está usando para flagelar a humanidade apóstata. No que é radicalmente uma guerra religiosa da parte deles, pela cegueira e fraqueza dos católicos que deveriam detê-los, eles conseguiram o domínio de nossos bancos, da nossa política, das nossas universidades, das nossas artes, da nossa cultura, do nosso direito, da nossa medicina, etc., de modo que todas essas coisas são meras cascas anticristãs daquelas coisas que uma vez foram como partes da civilização cristã. A culpa é dos cristãos por sua falta de fé, e isso recentemente resultou no roubo em uma outrora grande nação de sua eleição nacional, com muito poucos protestos contra a massa de mentiras necessariamente implicada. Ora, com o selo dos mesmos guerreiros anticristãos está toda a crise artificial da covid. Padre, qualquer fraternidade católica estará traindo ainda mais a Cristo se não discernir, e agir, sobre quem e o que está em jogo. A covid é um problema ainda mais religioso do que político, e os homens de Deus devem dizê-lo, se o povo de Deus quiser voltar a pôr-se de joelhos. Que Deus esteja convosco.

 

Kyrie eleison.

 

P.S. Já chega por hora de CE’s sobre a gravidade do modernismo. Os próximos dois CE’s deverão apresentar para o tempo da Páscoa a alegria de Beethoven (mesmo que não seja uma alegria diretamente cristã, mas derivada dela).