quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Comentários Eleison: A MULHER NAS ESCRITURAS – II

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXLI (841) – 25 de agosto de 2023

 

A MULHER NAS ESCRITURAS – II

Os santos Pedro e Paulo ensinam o mesmo sobre as mulheres,

Cabe aos homens guiá-las, em nome de Deus.

 

Certamente poucos leitores destes “Comentários” haviam percebido, antes de ler os da semana passada, em quantos lugares o Novo Testamento aborda diretamente a questão, tão controversa hoje, do homem e da mulher. Quando veem essas citações reunida se dão conta do quanto dizem a mesma coisa e de até que ponto o que dizem se afasta dos ensinamentos e da prática do homem e da mulher modernos. Comentemos as citações:

 

Gên. II, 18–24: Um adjutotório

Mesmo antes de a primeira mulher ser criada, ela foi projetada por Deus para ser orientada para o seu homem: ser sua esposa fiel (“dois em uma só carne”), permitir-lhe ter filhos e formar uma família (como nenhum outro homem poderia fazer), formar uma nova geração (“deixando pai e mãe”), dar continuidade à humanidade, eventualmente povoar a terra (e não despovoá-la: Gen. IX, 1, 7). Tudo isso Adão compreendeu imediatamente. Já as feministas de hoje tentam afastar-se dessa orientação para o homem; mas ela está demasiado arraigada na natureza delas, e quanto mais elas conseguem fazê-lo, maior o desastre para as mulheres e os homens. Veja-se, por exemplo, o MGTOW, uma reação dos homens ao feminismo que desnatura a mulher. O homem e a mulher foram projetados por Deus com uma complementaridade maravilhosa, e como a cabeça e o coração em um ser humano, precisam um do outro, e a natureza sempre os unirá.

 

Gen. III, 16: A Queda: punição, submissão

Mesmo antes da Queda, Eva estava subordinada a Adão, porque na Criação de Deus há ordem e hierarquia em toda parte, não igualdade e desordem. Ao homem, Deus dá dons de razão para que seja chefe da família e da sociedade; à mulher, Ele dá dons de amor para torná-la o coração da família e do lar. Mas embora antes da Queda esta subordinação natural da mulher tivesse sido indolor, depois da Queda pela qual Eva fez Adão cair, como parte do seu castigo por Deus, esta subordinação tornou-se dolorosa. Pela graça sobrenatural, em um casamento cristão essa dor é aliviada, mas pelo orgulho do feminismo, a dor só se agrava.

 

1 Cor. XI, 3–12: Hierarquia

O ensinamento de São Paulo não poderia ser mais claro: 1 Deus. 2 Cristo. 3 Homem. 4 Mulher. Eis a chave do feminismo: se o homem livrar-se de Deus e de Cristo, a mulher naturalmente se livrará do homem. Assim, se o homem deseja restaurar a ordem no seu lar e na sociedade, deve começar por subordinar-se a Deus através de Cristo. Por isso é bastante razoável argumentar que os verdadeiros autores do feminismo desastroso atual são os homens, e não as mulheres.

 

Ef. V, 21–33: Casamento

Assim, nesta citação mais longa que serve como Epístola na Missa de Matrimônio católico, os versículos 24 e 33 lembram à futura esposa o seu dever de submissão e respeito para com o marido, mas todos os outros versículos se dirigem ao marido, para dizer-lhe que cuide de sua esposa, como Cristo cuida de Seu próprio Corpo, a Igreja. É um exemplo sublime para um casamento. Depende do homem dar a direção certa à sua esposa.

 

Col. III, 18–21: Família

Aqui está a complementaridade essencial: Maridos, amem suas esposas; esposas, submetam-se a seus maridos.

 

1Tm. II, 9–15: Salvação pela maternidade

Quando os homens são ímpios, como acontece hoje em dia, as mulheres assumem o controle, tanto na sociedade como no lar, e às vezes têm de fazê-lo, com os muitos resultados infelizes que observamos ao nosso redor, porque as mulheres não são feitas para exercer a autoridade, mas para dar e receber amor, especialmente ao serem mães.

 

Tito II, 4–5: Centradas no lar

Assim como o homem precisa ser criativo em seu trabalho, a mulher precisa ser criativa formando uma família e um lar.

 

1 Pedro III, 1–7: Mais duas razões para que as esposas se submetam

Primeira: a insubmissão das esposas é tão antinatural que, praticada pelos cristãos, desacreditará a Cristo. Segunda: as mulheres são mais frágeis que os homens, e por isso devem ceder, enquanto os homens devem cuidar das fragilidades delas.

 

Kyrie eleison.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Comentários Eleison: A MULHER NAS ESCRITURAS – I

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXL (840) – 19 de agosto de 2023

 

A MULHER NAS ESCRITURAS – I

A que ponto a mulher e o homem modernos saíram fora dos trilhos!

Que sofrimentos serão necessários para trazê-los de volta?

 

Nossos tempos estão repletos de confusão sobre o assunto homem e mulher. Aqui embaixo, o próprio Deus fala sobre ele. E deve conhecê-lo, uma vez que foi Ele quem nos projetou, e não nós mesmos (Sl 99, 3).

 

Gen. II, 18–24: Um adjutório.

 

18 E o Senhor Deus disse: Não é bom que o homem esteja só: façamos dele um adjutório semelhante a ele... 21 Então o Senhor Deus lançou um sono profundo sobre Adão; e enquanto ele dormia profundamente, tomou uma de suas costelas e encheu-a de carne. 22 E o Senhor Deus fez da costela que tomou de Adão uma mulher: e a trouxe a Adão. 23 E Adão disse: Isto agora é osso dos meus ossos e carne da minha carne; ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada. 24 Portanto deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão os dois numa só carne.

 

Gen. III, 16: A Queda: punição, submissão

 

Disse também à mulher: “Multiplicarei as tuas dores e as de tuas concepções; com dor darás à luz filhos, e estarás sob o poder de teu marido, e ele terá domínio sobre ti.

 

1 Cor. XI, 3–12: Hierarquia

 

3 Mas quero que saibais que a cabeça de todo homem é Cristo; e a cabeça da mulher é o homem; e a cabeça de Cristo é Deus... 7 Na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e a glória de Deus; mas a mulher é a glória do homem. 8 Pois o homem não é da mulher, mas a mulher do homem. 9 Porque o homem não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem.

 

Ef. V, 21–33: Casamento

 

22 As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor; 23 Porque o marido é cabeça da esposa, como Cristo é cabeça da igreja, Seu Corpo, da qual Ele é o salvador. 24 Portanto, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres estejam sujeitas a seus maridos em tudo... 33 Contudo, cada um de vós em particular ame a sua mulher como a si mesmo; e a mulher tema a seu marido.

 

Col. III, 18–21: Família

 

18 Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como convém no Senhor. 19 Maridos, amem suas esposas, e não sejam ásperos com elas. 20 Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, porque isto agrada ao Senhor.

 

1 Tm. II, 9–15: Salvação, Maternidade

 

11 Que a mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. 12 Mas não permito que a mulher ensine, nem tenha autoridade sobre o homem, mas que esteja em silêncio. 13 Pois Adão foi formado primeiro; então Eva. 14 E Adão não foi seduzido; mas a mulher, sendo seduzida, caiu em transgressão. 15 No entanto, ela será salva dando à luz filhos... se ela permanecer com modéstia na fé, na caridade e na santificação,.

 

Tit. II 4–5: Moças / Amor à família

 

4 Para que ensinem as moças a serem prudentes, a amarem seus maridos e seus filhos, 5 que sejam discretas, castas, sóbrias, cuidadoras da casa, mansas, sujeitas aos seus maridos, para que a palavra de Deus não seja blasfemada.

 

I Pd. III, 1–7: O sexo frágil

 

1 Do mesmo modo, também as esposas sejam submissas a seus maridos; para que, se alguns não crerem na palavra, sejam conquistados mesmo sem a palavra da pregação, pelo trato de suas mulheres... 5 Porque assim também se adornavam as santas mulheres que esperavam em Deus, sendo submissas a seus maridos... 7 Vós, maridos, habitai com elas sabiamente, dando honra à mulher como ao vaso mais frágil, e como co-herdeiras da graça que dá a vida, para que nada se oponha às vossas orações.

 

Kyrie eleison.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Comentários Eleison: DOIS TIPOS DE BISPO – V

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXXXIX (839) – 12 de agosto de 2023

 

DOIS TIPOS DE BISPO – V

Chegar ao Céu é uma empresa que requer grande esforço,

Que exclui até a sombra do menor compromisso.

 

É hora de amarrar e encerrar esta série de cinco números destes “Comentários”, porque, girando em torno do tema de que tipo de Bispos são necessários hoje para a sobrevivência da fé católica de amanhã, os quatro primeiros números abarcaram diversos assuntos. Aqui está um breve resumo deles:

 

15 de julho: Para obter-se bons Bispos, a Verdade Católica imutável deve superar a Autoridade Católica atual.

 

22 de julho: O Arcebispo Lefebvre colocou a Verdade em primeiro lugar. Sua reorientada Fraternidade Sacerdotal São Pio X prefere a Autoridade.

 

29 de julho: Todos nós devemos rezar por essa Autoridade, nenhum de nós deve agir como se pudesse substituí-la.

 

05 de agosto: Nenhum compromisso ambíguo com a Roma atual pode servir verdadeiramente aos interesses de Deus.

 

A conclusão que se pode tirar desses quatro números dos “Comentários” é que por um lado o Arcebispo Lefebvre estava certo em 1988 quando consagrou quatro Bispos contra a desaprovação expressa de Roma, mas, por outro, sua Neofraternidade reorientada (como se pode chamá-la por causa de sua reorientação adotada oficialmente em 2012) errou quando então optou por esperar a aprovação de Roma para obter os novos Bispos de que tanto necessita. Ela precisa deles para proteger a Fé de uma multidão de almas distantes que vêm até ela como um refúgio das muitas e resolutas heresias de uma Roma que se mantém sob as garras dos inimigos de Deus. Mas a Neofraternidade dificilmente servirá de refúgio se continuar insistindo em negociar com esses destruidores da Fé. Podem os Superiores da Neofraternidade realmente não se darem conta de que Deus, com justiça,  permitiuaos que os cruzados liberais do mal assumissem o poder de Roma? A grave subestimação do mal que os cerca está no cerne da reorientação desses Superiores.

 

O Arcebispo Lefebvre teve uma ideia do perigo quando renunciou em 1982 como Superior Geral daquela que ainda era então a Fraternidade, e colocou seu superiorato nas mãos de sucessores mais jovens, pois ao mesmo tempo ele reservou para si todas as questões que envolvessem as relações com Roma. Com seus longos anos de experiência direta lidando como Delegado Apostólico na África francesa com oficiais do Vaticano, ele suspeitava que os jovens sacerdotes de sua Fraternidade viriam a ser como meninos no bosque em meio aos lobos e tubarões que trabalhavam no Vaticano. E assim se deu, porque o Lobo Mau tinha dentes muito bonitos, tal como Chapeuzinho Vermelho lhe disse! “Melhor assim, para que eu possa devorá-la, minha querida”, foi a resposta. E como as mentes modernistas perderam a verdade objetiva, tanto mais poder para enganar têm as mentiras “sinceras” dos oficiais romanos. Subjetivamente, elas são “sinceras”, dentes especialmente adoráveis! Objetivamente, elas são mortais.

 

Jovens sacerdotes da Neofraternidade, fizeram os senhores acreditarem que a Fraternidade de 2012 é a verdadeira Fraternidade do Arcebispo Lefebvre? Se assim o foi, os senhores se parecem com muitos jovens sacerdotes da Igreja oficial, aos quais só lhes foi ensinado que o Vaticano II é a verdadeira Igreja Católica. Mas alguns dos senhores agora estão despertando para o fato de que lhes venderam um fantoche como isca, e estão buscando a verdade, pela graça de Deus e pela própria boa vontade deles, e saibam os senhores que alguns deles inclusive estão voltando os olhos para o que era a Fraternidade do Arcebispo. Pela graça contínua de Deus, eles podem perceber, como vocês, que sua Fraternidade está correndo um grave risco ao querer voltar a unir-se à Roma apóstata – e isso é um grave risco porque se alguém quer algo por tempo suficiente, é provável que consiga o que quer. Jovens, cuidado com seus desejos!

 

Onde, nesse sentido, o Arcebispo mostrou sua sabedoria? Ele disse que são os Superiores que moldam os súditos, e não o contrário; então, sonhar em voltar a Roma para convertê-la é um sonho perigoso. E sobre o Vaticano II, disse ele também, seu perigo não está tanto nos graves erros particulares da liberdade religiosa, da colegialidade ou do ecumenismo, mas no subjetivismo onipresente que mina radicalmente toda verdade objetiva junto com todas as exigências que nos faz. O que pode restar da fé católica?

 

Caros jovens sacerdotes, peguem quaisquer textos do próprio Arcebispo e os devorem, mas cuidado com as edições adulteradas pela Neofraternidade, que censura qualquer coisa contrária às novidades dela...

 

Kyrie eleison.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Comentários Eleison: DOIS TIPOS DE BISPO – IV

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXXXVIII (838) – 5 de agosto de 2023

 

DOIS TIPOS DE BISPO – IV

Ao servir a Deus, meias-medidas não funcionam.

Devemos ser fiéis a todas as Suas exigências.

 

Depois de três números destes “Comentários” (os de 15, 22 e 29 de julho), é hora de ir ao cerne da divisão entre os dois tipos de Bispos católicos que se devem sagrar pelo futuro da Igreja Católica. De um lado estão aqueles desejados pelo Arcebispo Lefebvre para a sua Fraternidade Sacerdotal São Pio X original. Do outro lado estão aqueles desejados pela Neofraternidade do Bispo Fellay, que busca a aprovação oficial da Neoigreja do Vaticano II. Pela sua política de “Nenhum acordo prático sem acordo doutrinário”, o Arcebispo colocou Deus na frente dos homens, a doutrina de Deus da verdadeira Igreja na frente de qualquer falso acordo com a Neoigreja dos homens. Em contrapartida, a Neofraternidade é responsável por colocar os homens na frente de Deus, por causa de sua política de “uma vez que não podemos ter um acordo doutrinário com os oficiais romanos, vamos ter pelo menos um acordo prático”.

 

Ora, alguns seguidores da Neofraternidade poderão objetar imediatamente que, desde que ela adotou em 2012 a política da prática antes da doutrina, não entrou em nenhum acordo falso que traísse a verdadeira doutrina, e por isso não está colocando os homens na frente de Deus. É verdade que a Neofraternidade recusou até agora todo falso acordo importante com Roma sempre que esta insistiu para que ela aceitasse a teoria da nova religião do Vaticano II, ou sua práxis, que é a missa nova. Mas a Neofraternidade aceitou desde 2012 pelo menos três acordos menores (sobre confissões, matrimônios e ordenações) que demonstram ao mundo que ela reconhece os apóstatas em Roma, apóstatas da Fé de fato – assim o disse o Arcebispo –, ainda como servidores da verdadeira Fé. Que mensagem isso envia aos católicos confusos? Os romanos jogaram com habilidade.

 

Pois, de fato, a Roma conciliar abandonou a doutrina católica, vem devastando a Igreja desde o Vaticano II, na pessoa do Papa Bergoglio está deliberadamente destruindo a Fé dia após dia, e está preparando o Sínodo de setembro sobre a sinodalidade para dissolver a últimas estruturas remanescentes da Igreja de Jesus Cristo. E a Neofraternidade? Segue guardando um silêncio oficial sobre toda essa demolição em curso! Por quê? Porque não quer ofender os apóstatas de Roma, dos quais espera uma aprovação oficial! Sonhando com uma aprovação maior, a Neofraternidade não quer, ao manifestar-se, jogar fora as três pequenas concessões supramencionadas, pelas quais Roma efetivamente comprou – tão barato – seu silêncio. Os líderes da Neofraternidade não se dão conta de como lhes venderam um prato de lentilhas (Gen. XXV, 34)?

 

Não, eles não veem, porque se pode temer que queiram ter uma vida confortável escondida em um canto tranquilo do sistema perverso que atualmente governa o mundo e a Igreja. O Diabo os enganou dizendo que a Roma de hoje não é tão ruim assim, que a Neofraternidade é uma congregação católica normal que merece pleno reconhecimento oficial, que não estamos no meio de uma crise pré-apocalíptica com um Castigo divino pairando sobre nossas cabeças, que os oficiais do Vaticano são nossos “novos amigos”, que “o Papa Bergoglio nos ama”, e assim por diante. Em outras palavras, pelo menos os líderes da Neofraternidade, se não também uma quantidade significativa de seus padres e fiéis, entraram pelo menos pela metade no país das maravilhas do homem moderno, o que é suficiente para que seu sal católico tenha perdido o sabor. Na verdade, eles não tiveram fé suficiente, não tiveram amor suficiente pela Verdade (II Tess. II, 10), para assimilar a verdadeira medida do que está acontecendo ao seu redor. São Thomas More poderia ter dito deles o que disse dos clérigos ingleses responsáveis pelo colapso da Igreja Católica na Inglaterra de seu tempo: “Eles não estavam rezando o suficiente”.

 

Leitores, católicos ou não católicos, a situação é urgente mais do que as palavras podem descrever. Orem para que Nosso Senhor nos dê Bispos católicos com um verdadeiro amor pela Verdade; com uma fé forte o suficiente para ver quão corrupto é o Sistema que está sendo construído pelo Diabo e seus agentes ao nosso redor; sem nenhum desejo de entrar em um país das maravilhas; Bispos sem nenhuma inclinação para calar-se quando milhões e milhões de almas estão sendo arrastadas para a condenação eterna, mas com disposição para morrer como São Thomas More, se necessário, para a maior glória de Deus.

 

Orem pela intercessão Sua Mãe. Rezem o Rosário. Rezem 15 Mistérios por dia. E Deus os abençoará.

 

Kyrie eleison.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Comentários Eleison: DOIS TIPOS DE BISPO – III

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXXXVII (837) – 29 de julho de 2023

 

DOIS TIPOS DE BISPO – III

As almas que buscam Deus merecem a nossa atenção.

As almas que desprezam Deus precisam de nossa caridade.

 

Os últimos dois números destes “Comentários” apresentaram uma versão da diferença entre a Neofraternidade Sacerdotal São Pio X e a Fraternidade original do Arcebispo Lefebvre na questão crucial da obtenção de futuros Bispos capazes de garantir que a Igreja sobreviva à sua atual crise, passado mais de meio século desde o fim do Vaticano II, o Concílio da Igreja que desencadeou essa mesma crise. Isso necessariamente implicou ter de apresentar, ainda que brevemente, uma versão da própria crise, ou seja, do rompimento entre a Autoridade Católica e a Verdade Católica provocado por esse Concílio centrado no homem, que deveria ter permanecido, como todos os vinte Concílios anteriores da Igreja, centrado em Deus. Pela sobrevivência da Igreja, há muitas outras conclusões que se pode tirar, conclusões que dizem respeito a todos nós, e não somente ao clero.

 

Antes de mais nada, a Igreja Católica não pode prescindir da Verdade, porque ninguém pode salvar sua alma sem a Verdade (Heb. XI, 6), pois nenhuma mentira ou falsidade pode entrar no único e verdadeiro Céu do único e verdadeiro Deus, que é a própria Verdade (João XIV, 6). No entanto, em nosso mundo decaído, a Verdade não pode prescindir da Autoridade, porque a Verdade faz exigências aos homens, e todos os homens sofrem com o pecado original, de modo que muitas vezes desejam não viver de acordo com essas exigências, e somente de Deus pode vir qualquer Autoridade infalível e suficiente para obrigar os homens a viver de acordo com as exigências da Sua Verdade. Essa Verdade da salvação Ele quis confiar a Pedro e aos seus sucessores, todos eles homens falíveis dotados de livre-arbítrio, sempre capazes de pecar (Mt. XVI, 23; Gal. II, 11 etc.).

 

Ora, prevendo desde a eternidade que alguns Papas seriam falíveis e pecariam até mesmo gravemente contra a Verdade, então, para garantir que Sua Igreja e sua Verdade sobreviveriam até o fim do mundo (Mt. XXVIII, 20), Ele deve ter previsto também Suas próprias intervenções para garantir essa sobrevivência, contornando as falhas de Seus ministros humanos falíveis. E como Ele decidiu desde a eternidade permitir até mesmo que houvesse uma sequência de seis Papas sucessivos, após a morte de Pio XII em 1958, caindo no erro doutrinário radical do modernismo, causando a pior de todas as crises da Igreja, que já dura 65 anos (1958-2023), então não há dúvida de que Ele intervirá de maneira muito especial para acabar com essa crise. Vejamos, por exemplo, as profecias de Garabandal sobre um grande Aviso, um grande Milagre e um grande Castigo. Mas entre esse momento e o agora, o que o divino Pastor está fazendo para garantir a sobrevivência de Suas ovelhas? Ele deve estar fazendo alguma coisa. Olhemos à nossa volta em 2023 para descobrir o que é.

 

O que observamos é uma tremenda variedade de grupos e agrupamentos católicos que, em linhas gerais, podem ser classificados de acordo com a importância relativa que cada um deles dá à Autoridade Católica ou à Verdade Católica. E como a Verdade é imutável, somente quando a Autoridade conciliar abandonar o Vaticano II é que a desastrosa ruptura entre a Autoridade e a Verdade poderá ser sanada. Até então, os católicos devem rezar urgentemente pelo Papa, ou pela recuperação do Papa, para que ele possa recuperar a Autoridade Católica, pois o papado hoje está humanamente destruído, e somente Deus pode restaurá-lo. Até que chegue esse momento, como diz o provérbio: “O que não se pode curar, deve ser suportado”.

 

Então, enquanto a Autoridade estiver sendo estrangulada pelos Papas conciliares, os católicos estarão fadados a permanecer divididos, de modo que alguns são 80% voltados para a Autoridade e 20% para a Verdade, outros estarão 80% voltados para a Verdade e 20% para a Autoridade, com todas as combinações possíveis no meio. Mas quando o Papa se encontra ferido desta forma, as ovelhas estão tão inevitavelmente dispersas, que seja qual for a combinação a que se apeguem, se desejam sinceramente ser católicas, Deus estará visivelmente tolerando-as. E os católicos, em vez de brincar de Deus excomungando-se uns aos outros, farão melhor, em termos gerais, se imitarem a Deus tolerando-se uns aos outros (Gal. VI, 10), até que Deus considere oportuno acabar com a crise. Não é que a Verdade não importe, pelo contrário, e alguém na Igreja deve preservá-la: mas sem uma Autoridade que atue retamente, torna-se mais difícil culpar os católicos por não encontrá-la.

 

Kyrie eleison.