segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Comentários Eleison: SÍNODO VERSUS IGREJA?

 

Por Dom Williamson

Número DCCCL (850) – 28 de outubro de 2023

 

SÍNODO VERSUS IGREJA?

 

Um católico o é pelo que crê,

Não se deixa dispersar como as folhas de outono.

 

A Igreja Católica sempre ensinou que a sua Doutrina e a sua Constituição são ambas de origem divina, tendo sido estabelecidas por Jesus Cristo para pertencerem à fundação da Sua Igreja, e nunca para serem alteradas pelos homens, nem que sejam os mais altos oficiais da Igreja. No entanto, com base em tudo o que sabemos sobre o atual sínodo de bispos que acontece neste mês de outubro em Roma, parece que o Papa Bergoglio tem em mente realizar, por meio deste mesmo sínodo, mudanças revolucionárias no ensinamento e na estrutura da Igreja. Por exemplo, os participantes em todos os sínodos anteriores eram predominantemente do alto clero, mas em linha com a democratização da Igreja pelo Vaticano II (1962-1965), desta vez uma grande proporção será composta por leigos e mulheres.

 

Diante da ameaça deste sínodo à própria sobrevivência da Igreja, cinco cardeais romanos de diferentes partes do mundo, a saber, Brandmueller (Alemanha), Burke (EUA), Sandoval (México), Sarah (Guiné) e Zen (China), escreveram para o Papa no dia 10 de julho deste ano uma lista de cinco “dubia”, ou dúvidas doutrinárias, sobre as quais lhe pediam, inteiramente de acordo com o Direito Canônico, um esclarecimento doutrinário a respeito do que o próprio Papa disse em diversas ocasiões sobre 1 a Revelação Divina, 2 as uniões entre pessoas do mesmo sexo, 3 a sinodalidade, 4 as mulheres sacerdotes e 5 o Sacramento da Penitência. Eis o que a Igreja ensina sobre estes pontos:

 

1 Revelação Divina: o que a Igreja declarou ser doutrina de Deus, jamais pode ser mudado.

 

2 Uniões entre pessoas do mesmo sexo: as situações objetivamente pecaminosas, como as uniões entre pessoas do mesmo sexo, não podem ser reparadas pelas boas intenções dos pecadores, e continuam a ser uma traição à Revelação divina que as condena.

 

3 Sinodalidade: toda reunião de bispos, como um sínodo, com ou sem a participação de leigos e mulheres, continua sendo um grupo de consulta do Papa, mas não pode participar no seu governo da Igreja.

 

4 Mulheres sacerdotes: pela própria natureza do Sacramento da Ordem, as mulheres não podem ser sacerdotes válidos.

 

5 Sacramento da Penitência: A Confissão não é válida se o penitente não tiver contrição suficiente pelos seus pecados.

 

No dia 11 de julho deste ano, o Papa Bergoglio respondeu a cada uma das cinco “dubia” com considerações próprias. Suas respostas completas em sua carta de 11 de julho podem ser encontradas na Internet, por exemplo, em edwardpentin.co.uk.

 

1 A revelação divina é vinculante para sempre, mas o que é vinculante para sempre pode precisar ser reinterpretado para adequar-se às novas circunstâncias de novos tempos.

 

2 Substância perene não é a mesma coisa que condicionamento cultural. Por isso, deve haver sempre caridade pastoral para com as ovelhas da Igreja. O seu comportamento nem sempre se ajusta às normas da Igreja.

 

3 O povo católico deve colaborar no governo da Igreja pelo Papa. Toda essa colaboração pode chamar-se “sinodal”. Mas, para ajustar-se à Igreja Universal, ela deve ser sempre bem aberta.

 

4 A Igreja sempre ensinou que as mulheres não podem ser sacerdotes, mas têm os mesmos direitos que os homens.

 

5 É claro que a Igreja sempre exigiu o arrependimento para a absolvição, mas nos nossos dias as coisas avançaram tanto que o simples fato de um pecador confessar-se pode ser suficiente para merecer a absolvição.

 

Os cinco cardeais não poderiam ter ficado satisfeitos com tais considerações, por mais piedosas e bem-intencionadas que pudessem parecer. E assim, no dia 21 de agosto, escreveram novamente ao Papa com as suas cinco “dubia”, reformuladas para pedir uma resposta clara e doutrinal de “sim” ou “não” a cada uma das suas dúvidas. Eis como reformularam as mesmas dúvidas, para extrair do Papa a resposta exata que elas exigiam:

 

1 Sim ou não, se um texto já foi definido como doutrina divina, esse mesmo texto pode ser alterado posteriormente?

 

2 Sim ou não, um sacerdote católico pode abençoar uma união entre pessoas do mesmo sexo? Todas as relações extramatrimoniais continuam sendo pecaminosas?

 

3 Sim ou não, o atual sínodo dos bispos exercerá a Autoridade Suprema da Igreja?

 

4 Sim ou não, poderá a ordenação sacramental de uma mulher ao sacerdócio católico ser válida?

 

5 Sim ou não, um penitente que confessa um pecado sem arrepender-se dele pode receber validamente a absolvição?

 

Se o sínodo pretende mudar a doutrina católica em qualquer um destes pontos, não terá sido um sínodo católico, e a consequência normal será um cisma na Igreja.

 

Kyrie eleison.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Comentários Eleison: A QUEDA DA IRLANDA – I

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXLIX (849) – 21 de outubro de 2023

 

A QUEDA DA IRLANDA – I

 

Meu país decaiu, mas Deus me estendeu Sua mão,

Para que eu não fosse mais uma vítima.

 

Eis a história de outro jovem que encontrou o caminho de regresso à verdadeira Fé, desta vez vinda da Irlanda, outrora tão católica, mas hoje profundamente mergulhada na apostasia. Como Quebec – quanto mais alto estavam, mais forte caíam. Observe como o ponto decisivo de sua conversão foi começar a rezar, particularmente o Rosário.

 

Enquanto crescia no final dos anos de 1990 e início dos anos 2000 na Irlanda, as coisas estavam mudando rapidamente para pior. A desconstrução do passado da Irlanda já estava em marcha. Como era comum para a maioria dos jovens da minha idade, fui batizado e enviado para a escola “católica” local. Mas nunca houve qualquer catequese ou ensino sobre a Fé, e é por isso que se perguntarmos à maioria das crianças na Irlanda que frequentaram uma escola “católica” sobre até mesmo os princípios mais básicos da Fé, elas não serão capazes de responder.

 

O meu regresso à Fé foi de uma maneira pouco convencional. Sempre tive fome de conhecimento, e devorava livros desde criança; mas sem a orientação adequada de figuras de autoridade, fui facilmente desencaminhado por minha natureza decaída. No final da minha adolescência, li muitos tipos diferentes de filosofia, com fases de Marx, Nietzsche e Camus, entre outros. De alguma forma, deparei com os escritos do filósofo italiano Julius Evola, cujo ódio e desprezo absolutos pelo mundo moderno me tocaram. Ele nunca usou a palavra “Deus”, já que ele mesmo não era católico, mas substituiu o termo por “Absoluto” ou “Transcendente”. No entanto, mais ou menos na mesma época em que comecei a ler Evola, comecei também a interessar-me pelo catolicismo, mas por razões mais políticas do que espirituais.

 

O problema surgiu quando olhei para a Igreja de hoje e a comparei com o “tradicionalismo” radical que aprendia com Evola. Naquele momento eu já conhecia algumas das questões relacionadas ao Concílio Vaticano II, e já tinha ouvido falar da FSSPX, mas sabia muito pouco sobre ir à Missa ou sobre as doutrinas da Fé. Li sobre como os católicos rezam e deparei com o Rosário. Eu não entendia por que os católicos rezavam tanto para Maria em vez de para Deus, mas estava disposto a ver o motivo de toda aquela agitação; então comecei a rezar o Rosário.

 

O meu regresso à fé aconteceu durante a “pandemia” de covid, quando as igrejas católicas na Irlanda foram fechadas pelo maior período de tempo na Europa. Eu não tinha para onde ir, e não poderia ter-me beneficiado da Comunhão mesmo que quisesse. Felizmente, estive conversando com alguns católicos pela Internet, e um deles me informou sobre um Padre que estava encontrando-se com algumas pessoas para a Confissão. Contactei imediatamente este Padre, e a minha Confissão realizou-se em um cemitério. Ao confessar-me e tentar voltar à Fé, meu antigo eu ateu estava, de certa forma, morrendo, e eu estava renascendo na Fé.

 

Algo que tenho notado nas comunidades de Missa em latim em Dublin é que a maioria dos homens presentes são novos na fé, enquanto as mulheres tendem a ser católicas de berço. Muitos dos jovens que se descreveriam como católicos tradicionalistas estão cientes da “questão judaica”, e estão informados a respeito dela, mas não estão seguros sobre o que podem fazer para combater os esforços da Sinagoga de Satanás. O que podemos fazer, além de rezar, para combater ativamente os inimigos da Igreja? Uma coisa que nenhum de nós parece ser capaz de compreender verdadeiramente é: o que aconteceu com a Igreja? Como ela chegou ao estado atual em que se encontra? E, por extensão, o que aconteceu com a nossa sociedade? Leio antigas Encíclicas papais e as comparo com o que vejo vindo de muitos na hierarquia da Igreja de hoje, e me pergunto: é a mesma fé?

 

(Não, não é a mesma Fé; é uma nova religião, em guerra com a antiga. Os inimigos da Fé são mais bem combatidos com as armas da Fé. Reze todos os 15 Mistérios do Rosário, todos os dias, por eles... Estamos vivendo o clímax de uma apostasia da cristandade que já dura 700 anos. A sociedade vem caindo junto.)

 

Kyrie eleison.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Comentários Eleison: PRECISA-SE DE CATÓLICOS

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXLVIII (848) – 14 de outubro de 2023

 

PRECISA-SE DE CATÓLICOS

 

Alguns protestantes ainda têm bom senso, mas os católicos somente

Veem plenamente como os inimigos de Deus estão circulando livremente.

 

O Dr. E. Michael Jones (EMJ) é um professor universitário americano cujo nome e cujos livros podem ser familiares a muitos leitores destes “Comentários”, porque durante muitos anos, desde o Vaticano II, ele tem sido um escritor e conferencista prolífico sobre assuntos católicos. Alguns católicos podem não apreciar o fato de ele nunca ter compreendido devidamente o aparente desafio à Autoridade Católica por parte do Arcebispo Lefebvre, especialmente em 1988, quando este consagrou quatro Bispos para salvar a Tradição Católica. No entanto, nenhum católico familiarizado com o trabalho de EMJ pode deixar de apreciar a profundidade da sua fé ou a amplitude da sua cultura, e, sobretudo, a sua disposição para julgar a “cultura” moderna à luz dessa fé.

 

Por exemplo, com o seu último livro recentemente publicado, A Narrativa do Holocausto, ele ousa abordar o mais proibido de todos os assuntos tabus, nomeadamente a alegada morte por gaseamento de seis milhões de judeus nas câmaras de gás nazis do Terceiro Reich (1933-1945). Teremos de ler o livro para ver o que exatamente EMJ diz sobre esse mito incrivelmente influente, mas não há dúvida de que cada vez mais historiadores sérios têm questionado se o “Holocausto” é realmente um fato histórico. Emoção, sim, e muita, mas evidências, pouca ou nenhuma. Eis o que o próprio EMJ diz sobre o lançamento de seu livro:

 

  ...Estamos sobrecarregados com pedidos do livro. Na verdade, é possível que a primeira edição esteja esgotada antes do final da semana. Penso que o livro chegou precisamente no momento em que o (1) Estado Profundo se voltou contra Biden e os seus (2) manipuladores judeus. A (3) facção WASP da (4) CIA enfrenta agora uma emergência que a obriga a por os judeus de lado antes que a (5) ADL/AIPAC e outras organizações similares destruam o Império Americano. A situação é semelhante àquela após a Segunda Guerra Mundial, quando a elite WASP teve de intervir para livrar-se do (6) Plano Morgenthau antes que a Alemanha recebesse os soviéticos (7) de braços abertos. A Alemanha está precisamente na mesma situação agora, pronta para sair da NATO e fazer as pazes com a Rússia para que possa ter acesso à energia necessária para manter a sua base industrial. A recente coluna de David Ignatius no Washington Post pedindo a renúncia de Biden é uma indicação de quão desesperado o Estado Profundo está neste momento.

 

Nem todos os leitores compreenderão todas as referências feitas aqui por EMJ, mas o que ele está dizendo aqui merece ser bem explicado. 1. O “Estado Profundo” nos EUA atualmente é o verdadeiro governo do país que opera sob as aparências do governo visível. A prova da sua existência em muitas nações ocidentais é a forma como os partidos no poder podem mudar, mas as políticas não desejadas pelo povo raramente mudam. 2. Um “manipulador judeu” é um judeu que fica logo atrás de um político público para certificar-se de que não fará ou dirá nada que desagrade os judeus. Esses “manipuladores” são agentes-chave do “Estado Profundo” que perseguem os objetivos da Nova Ordem Mundial, sem importar-se se as pessoas a querem ou não. 3. Um “WASP” é um protestante anglo-saxão branco que quer que os judeus ajudem os “WASP’s” a conseguirem o poder mundial, mas não quando os judeus querem esse poder para si próprios. 4. A CIA é uma criação dos WASP’s, e foi fundada para promover a supremacia americana, não a supremacia judaica; mas há muito que está tão infiltrada por judeus ou pelos amigos destes, que já não trabalha para a América, mas para a Nova Ordem Mundial. EMJ diz que a CIA está agora em pânico com o perigo de os judeus destruírem os EUA para seu próprio benefício. 5. A ADL, ou Anti-Defamation League [Liga Antidifamação], e o AIPAC, ou American Israel Public Affairs Committee [Comitê Americano-Israelense de Assuntos Públicos], são duas importantes organizações judaicas com uma imensa influência sobre a direção da vida pública nos EUA como um todo. A CIA WASP já não aprecia o poder delas sobre os Estados Unidos. 6. Henry Morgenthau (1891–1968), um judeu, foi secretário do Tesouro dos EUA de 1934 a 1945. No final da Segunda Guerra Mundial, ele elaborou um famoso plano para esmagar totalmente a Alemanha derrotada. 7. Se este plano não tivesse sido abandonado pelo bom senso dos WASP’s, teria levado toda a Alemanha do pós-guerra para os braços dos comunistas soviéticos. O que EMJ está dizendo é que o bom senso é igualmente necessário hoje em dia para impedir que as mesmas pessoas que queriam destruir completamente a Alemanha, destruam completamente os EUA.

 

Kyrie eleison.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Comentários Eleison: MENSAGEM DO CÉU? – II

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXLVII (847) – 07 de outubro de 2023

 

MENSAGEM DO CÉU? – II

 

Mas até então, sê paciente, alma minha. As más ações virão à tona,

Embora todo mundo as reprima aos olhos dos homens.

Hamlet, Ato 1, Cena 2, fim.

 

Nada do que aqui se segue é dogma da Igreja, nem é oficial nem infalível, mas meramente opinião do autor destes “Comentários”, especulando sobre a natureza da Igreja Católica e a sua atual agonia. Há duas semanas, estes “Comentários” (número 845, de 23 de setembro) citavam uma mensagem supostamente vinda do Céu, na qual uma Irmã desconhecida na França assegurava a um padre tradicional que ele continuava servindo a Nosso Senhor, ainda que para isso só aparentemente estaria desobedecendo à Autoridade da Igreja acima dele. Antes de comentar a mensagem, talvez seja necessário citá-la novamente, tal como apareceu há duas semanas, mas com alguns números que sirvam de referência.

 

1. A Santa Igreja Católica e Apostólica atravessa atualmente uma crise profunda e dolorosa nos seus representantes, e o senhor, Padre, é uma de suas vítimas.

 

2. Dom Thuc compreendeu a ruptura dentro da Igreja e, como Bispo, assumiu uma posição pessoal que não estava de acordo com as regras, porque ordenou Padres e Bispos sem incardinação, colocando assim todos numa situação irregular, mesmo que sejam fervorosos e queiram exercer um ministério de acordo com o ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

3. Dom Williamson, tendo sido colocado numa situação semelhante ao ser desligado da Fraternidade Sacerdotal São Pio X pelo seu Superior na época, sem motivo válido, deveria ser capaz de compreender a sua situação, porque ele também consagrou Bispos e ordenou Padres. Assim como o senhor, por enquanto, estes também carecem de incardinação.

 

4. A situação atual dentro da Santa Igreja Católica é tão ruim que o Senhor está feliz com todos os Seus ministros que trabalham fielmente para Ele, com ou sem incardinação.

 

5. Esta é a resposta do Senhor à sua pergunta. Assim que a Santa Igreja recuperar dentro de si a força da Verdade, os sacerdotes que continuam à deriva poderão reincorporar-se a ela oficialmente, embora extraoficialmente nunca a tenham deixado. O Senhor os abençoe. Fique em paz e seja fiel.

 

1. A mensagem parte da atual “crise profunda e dolorosa” da Igreja. Negá-la é não compreender nada dos acontecimentos atuais da Igreja. A mensagem mostra verdadeira simpatia por um sacerdote que sofre na crise.

 

2. Alguns leitores podem escandalizar-se com a mensagem por começar com a menção ao Arcebispo Ngo Dinh Thuc (1897–1984), já que a sua longa carreira a serviço da Igreja não terminou de forma gloriosa. Em princípio, ele compreendeu a gravidade da crise da Igreja na década de 1960 e a necessidade de se tomar medidas de emergência, mas na prática terminou consagrando Bispos e ordenando Padres de modo desenfreado. No entanto, neste contexto, a mensagem utiliza o caso dele para mostrar que os princípios da crise remontam à década de 1960. O fato de Dom Thuc ter exagerado na prática não é estritamente relevante para os princípios subjacentes que continuam vigorando atualmente. A mensagem prossegue reconhecendo tanto a necessidade normal de um sacerdote de incorporação estrutural numa diocese ou Congregação (Autoridade), como a boa vontade dos sacerdotes que fazem todo o possível para servir a Deus (Verdade); ou seja, ela sustenta o equilíbrio entre a Verdade e a Autoridade.

 

3. E o mesmo se dá com o movimento na Igreja hoje conhecido pelo nome “Resistência” ou “Fidelidade”. Por um lado, esse movimento tem recorrido a medidas anormais ou de emergência para os seus Bispos e novos Padres, como fez o Arcebispo Lefebvre em 1988 (“Verdade”). Por outro lado, esses Bispos e Padres não têm incorporação normal, ou “incardinação”, na estrutura oficial da Igreja (“Autoridade”).

 

4. No entanto – e aqui está o “ponto final” de toda a mensagem – desde que tais Bispos e Padres trabalhem fielmente para Nosso Senhor, então a falta de incardinação não é tão importante, porque “a situação atual na Igreja é muito má”. Em outras palavras, primeiro a Fé, depois a estrutura; e primeiro a Verdade, depois a Autoridade.

 

5. Por fim, aqui está o princípio básico do bom senso que resolve o problema original do Padre supramencionado. A Autoridade da Igreja só existe para servir à Verdade da Igreja, e, com ela, a salvação das almas. E assim que a Verdade recuperar o seu legítimo lugar de destaque na Igreja, como acontecerá, então a Autoridade recuperará igualmente o seu lugar secundário, e tudo o que é verdadeiramente legítimo recuperará a sua legitimidade oficial temporariamente perdida. Deo Gratias!

 

Kyrie eleison.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Comentários Eleison: MAUS PASTORES?

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXLVI (846) – 30 de setembro de 2023

 

MAUS PASTORES?

 

Queremos sempre mares calmos, fáceis de navegar,

Mas Deus quer tempestades, para nos por em provação.

 

Como há certas perguntas que voltam ser feitas, é preciso repetir certas respostas. Desde o início do “movimento tradicional”, logo após o Vaticano II, surgiu a questão de se se deve ou não assistir à missa nova do Papa Paulo VI: “Se ela não é necessariamente inválida, se pode ser válida, por que não posso assisti-la?”. De acordo com a teologia católica da Missa, a resposta dos tradicionalistas desde o início é que mesmo que a celebração de uma missa nova com Matéria, Forma e Intenção corretas seja válida, não se pode assisti-la normalmente porque está tão envenenada pela nova religião humanista do Vaticano II, que muitos católicos que a frequentam regularmente correm o risco de perder sua fé pela exposição a nada menos que uma versão falsa de Deus, do homem, do pecado e da redenção. A Missa Tradicional está centrada em Deus, a missa nova está centrada no homem.

 

No entanto, a aceitabilidade de assistir à missa nova tem sido respaldada nos últimos anos pela alegação de que houve uma série de milagres eucarísticos com hóstias consagradas numa missa nova celebrada por um padre ordenado com o novo rito de ordenação por um bispo consagrado com também com o novo rito de consagração, como, por exemplo, em Sokulka, na Polônia, em 2008. Ora, os tradicionalistas não só afirmam, como procuram demonstrar, que todos os três ritos novos (de Missa, de Ordenação e de Consagração) podem ser inválidos; mas, no caso, deparam com o fato de que em muitos destes supostos milagres eucarísticos há a evidência (verdadeiramente) científica de que a transubstanciação realmente ocorreu. Veja, por exemplo, o livro de 279 páginas publicado recentemente pela Sophia Institute Press, A Cardiologist Examines Jesus, no qual um cardiologista profissional expõe “a impressionante ciência por trás dos milagres eucarísticos”. Uma mente sã, após examinar essa “ciência”, partirá dela. Sokulka aparece no livro das páginas 81 à 95. Duas das vinte e sete chapas fotográficas do livro vêm de Sokulka.

 

Com tais evidências, devemos assumir que pelo menos alguns dos supostos milagres eucarísticos são autênticos. O argumento em favor da missa nova assume então a seguinte forma: se a missa nova é tão ofensiva a Deus e tão prejudicial aos católicos, como afirmam os tradicionalistas, então como é que Deus, o único que pode produzir a evidência por detrás de tais milagres, poderia tê-los operado na missa nova? E como pode ser errado que eu a assista? A resposta mais acima não mudou. Tudo o que a evidência científica fez foi provar, além de qualquer dúvida possível, que a transubstanciação realmente ocorreu na missa onde o milagre aconteceu. Então a pergunta é: como pode um Deus amoroso querer envenenar a fé de Suas próprias ovelhas?

 

A resposta é clássica. Deus não quer o mal, mas quer permitir o mal para extrair dele um bem maior. O mal é a exposição das almas católicas ao veneno humanista que ameaça a sua fé. Este mal foi querido pelos clérigos infiéis que mudaram o Rito da Missa, mas não foi querido por Deus. O que Ele quis foi lembrar aos Seus pastores (bispos) e às Suas ovelhas (leigos) que a Missa é o verdadeiro Sacrifício de Seu Filho, e ambos devem parar de comportar-se como se a Missa fosse apenas um piquenique glorificado. Em Sokulka, por exemplo, o pároco, no momento do milagre e durante vários anos depois, declarou que a devoção à Sagrada Eucaristia aumentou notavelmente em toda aquela região desde o milagre. E a hóstia milagrosa está agora exposta para adoração numa capela lateral da igreja paroquial.

 

Assim, Deus Todo-Poderoso não gosta do que uma multidão de clérigos e leigos têm feito à Sua igreja ao longo dos tempos, começando por Judas Iscariotes, mas Ele quer colocar a Sua infinitamente preciosa Igreja nas mãos de clérigos com livre-arbítrio para merecerem Seu próprio Céu servindo-Lhe bem, embora correndo o risco de demérito por seu desserviço, e Ele quer permitir que Suas ovelhas tenham maus pastores se isso for o que elas merecerem, para que sofram e voltem a querer bons pastores. Mas Ele nunca deixará Suas ovelhas completamente sem liderança, caso queiram chegar ao Céu. Veja como Ele nos deu o Arcebispo Lefebvre para ser pioneiro no retorno à Tradição, e agora o Arcebispo Viganò para dar um exemplo de coragem, ao dizer a Verdade Católica a um poder anticatólico aparentemente esmagador.

 

Kyrie eleison.