segunda-feira, 26 de junho de 2023

Comentários Eleison: SOLZHENITSYN APLICADO

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXXXII (832) – 24 de junho de 2022

 

SOLZHENITSYN APLICADO

A boa arte constrói valores naturais na alma,

O que é de grande ajuda para seu objetivo sobrenatural.

 

Na semana passada, nestes “Comentários”, Solzhenitsyn argumentava que as artes mostram o que está acontecendo com a alma dos homens; que as artes modernas revelam um vazio espiritual nas almas modernas; e que esse vazio espiritual não é um bom prenúncio para o homem em nenhum momento. O próprio Solzhenitsyn não era católico; na verdade, em sua juventude, ele estava sem Deus. Mas oito anos de sofrimento nos campos de prisioneiros comunistas o ensinaram que existe um Deus, que lhe deu uma vida espiritual e uma visão da realidade que faltam a muitas almas, secas sob o comunismo no Oriente, mas também ressecadas no Ocidente por séculos de racionalismo e materialismo (isso inclui muitos “católicos” – pensemos no Vaticano II). Apliquemos algumas das lições de Solzhenitsyn às nossas próprias vidas.

 

Em primeiro lugar, nosso desprezo pelas artes: um exemplo disso é como todos os jornais publicam poesia hoje em dia como se fosse prosa (os materialistas não gostam da poesia, que está sempre sugerindo que a vida é algo mais do que somente prosa). Mas pela natureza que Deus nos deu, os homens temos, além de nossos corpos materiais, uma alma imaterial que responde a histórias, músicas, pinturas e esculturas, e precisa delas. Essas “artes” são os produtos mais elevados e espirituais dos homens dotados para escrever histórias, tocar música ou criar pinturas ou esculturas. Eis por que eles mesmos e seu público costumam dizer que os “artistas” estão, em seu melhor momento, “inspirados”; por que os ateus dificilmente podem produzir verdadeiras “artes”; e por que os maiores “artistas” e as maiores “artes” dos últimos tempos podem invariavelmente ser rastreados até a cristandade, como percebeu Sir Kenneth Clark (1903–1983). Ora, no exercício de sua arte, qualquer artista normalmente se esforça para compartilhar algo importante para ele. É por isso que as artes são uma boa indicação do conteúdo da alma dos homens, e é por isso que as histórias, as músicas ou as pinturas populares manifestam a vida espiritual de um povo.

 

Por isso os católicos nunca devem subestimar, como estão sujeitos a fazer sob a pressão do desprezo moderno pelas artes, o valor e a importância das histórias, da música e das artes visuais. Solzhenitsyn está certo ao afirmar que as histórias sem sentido de hoje, a música estridente e as feias artes visuais atuais refletem o grande mal que está presente nas almas modernas. Ele lê nelas o resplendor ardente, ou a perdição, da chamada “civilização ocidental”. Compara com a grande ópera de Wagner, Crepúsculo dos Deuses (1876), na qual toda uma ordem mundial, o Valhalla dos deuses, desaba em chamas no palco. No entanto, para os pais modernos geralmente pouco importa que tipo de música seus filhos ouvem. Nem mesmo dão a devida atenção ao tipo de música de que eles mesmos gostam. Portanto, os “músicos” do rock são livres para roubar desses pais o afeto dos filhos, assim como o flautista de Hamlin roubou com sua música os filhos do povo de Hamlin. Os pais podem perceber tarde demais o mau exemplo que deram aos filhos ao ouvirem eles mesmos lixo se passando por “música”. Opa! Mas como alguém se atreve a chamar música de “lixo”? Porque é isso que a música moderna em grande parte, vazia de valor ou interesse melódico, harmônico ou rítmico, é. Porque se a música não edifica, está fadada a corromper. Por sua própria potência, ela não pode não fazer uma coisa ou outra.

 

Ora, há um limite para a música que alguém pode forçar-se a gostar. Se eu tenho uma alma em estado de “lixo”, não posso gostar de música decente da noite para o dia. Por outro lado, não posso amar nada do que não tenho conhecimento. Então, o mínimo que posso fazer para elevar minha alma é conhecer uma música melhor. A melhor música é o canto gregoriano. Em seguida vem a polifonia, e depois a música clássica. O mais baixo de tudo é a música moderna: jazz, pop, rock e rap, nessa ordem decrescente. Por que? Porque “A melodia”, disse Mozart, “é a alma da música”. O canto gregoriano é pura melodia, e no rap não há melodia. Em algum ponto crucial dessa escada descendente está o músico clássico Beethoven (1770-1827), que combina, de forma única, a ordem do século XVIII com a paixão do século XIX. Por um lado, é por alguns momentos muito colérico e violento para agradar às almas tranquilas. Por outro lado, não é tão calmo a ponto de dizer pouco ou nada aos jovens modernos, que estão muito agitados para poder suportar muita ordem.

 

Mas para quem quer que deseje entrar no mundo da música clássica, uma introdução maravilhosa pode ser o filme da BBC de 2003, Beethoven’s Eroica. O filme é uma reconstrução da primeira apresentação da Sinfonia “Eroica” no palácio particular de um aristocrata vienense em 1804. Vemos a variedade de reações humanas a esta música que marcou uma época, algo novo naquele tempo: a senhora da casa se emociona ao ouvir a carga de cavalaria; sua empregada doméstica, alternadamente ouvindo e flertando; um general tcheco desconcertado com a extensão e a originalidade da sinfonia, mas profundamente comovido apesar de si mesmo; o famoso compositor Joseph Haydn compreendendo plenamente que uma nova era na música havia chegado; e assim por diante. O filme apresenta muito bem tanto esse contexto humano como o marco histórico da Terceira Sinfonia, com a Revolução ao seu redor. Ele, que é fortemente recomendado, pode ser facilmente acessado em https://www.youtube.com/watch?v=UtA7m3viB70.

 

Kyrie eleison.

terça-feira, 20 de junho de 2023

Comentários Eleison: SOLZHENITSYN VIU

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXXXI (831) – 17 de junho de 2023

 

SOLZHENITSYN VIU


O artista vê o brilho da nossa “cidade em chamas”,

Mas, voltar-se-ão os homens para Deus? Não? Que pena!

 

Alexander Solzhenitsyn (1918-2008) foi um escritor russo que ficou famoso por sua forte e clara denúncia do comunismo soviético em sua obra mais conhecida, “O Arquipélago Gulag” (1973). Este livro em três volumes contribuiu bastante para que se mostrasse ao mundo os horrores do comunismo, e foi fruto de sua própria conversão aos valores mais antigos de Deus e da pátria, que experimentou durante os oito anos (1945–1953) em que esteve preso nos gulags soviéticos (campos de prisioneiros). O texto que se segue é um extrato, ligeiramente adaptado, de um discurso que ele pronunciou ao National Arts Club de Nova York em 1993. Mostra sua clara compreensão das artes modernas como reflexo de uma grave falta de vida espiritual nas almas, tanto no Ocidente quanto no Oriente.

 

Todo o nosso mundo está vivendo um século de enfermidade espiritual, que se reflete necessariamente nas artes. Surgiu um sentimento de confusão sobre o mundo não apenas nos antigos países comunistas, mas também no Ocidente, onde um aumento sem precedentes dos benefícios materiais da civilização e a melhora constante dos níveis de vida foram acompanhados por uma erosão e um obscurecimento dos altos ideiais morais e éticos. O eixo espiritual da vida obscureceu, e há artistas cujas obras agora parecem não fazer mais sentido para o mundo, que as vê como um monte de lixo absurdo. Sim, a cultura mundial atravessa hoje uma crise gravíssima.

 

Uma saída tem sido recorrer a novos métodos engenhosos, como se jamais estivesse havendo uma crise, como se modificar o meio pudesse compensar a falta de mensagem. Vãs esperanças. Nada que valha a pena se pode construir com base na negligência dos significados mais elevados ou em uma visão relativista dos conceitos e da cultura em seu conjunto. De fato, é possível discernir algo maior do que um fenômeno confinado à arte brilhando aqui sob a superfície – não de forma luminosa, mas de um sinistro resplendor carmesim, como o de uma cidade em chamas...

 

Pois por trás desses experimentos ubíquos e aparentemente inocentes de rechaço à tradição “antiquada”, existe uma hostilidade profundamente arraigada em relação a qualquer espiritualidade. Esse culto implacável à novidade, com sua alegação de que a arte não precisa ser boa ou pura, desde que seja nova, e sempre mais nova, esconde uma tentativa inflexível e sustentada de minar, ridicularizar e erradicar todos os preceitos morais. Como se não houvesse Deus, nem verdade, como se o universo fosse caótico, não houvesse absolutos, como se tudo fosse meramente relativo.

 

Pois nestas últimas décadas do século XX, a literatura, a música, a pintura e a escultura mundiais mostraram uma tendência obstinada de crescer não mais para o alto, mas para os lados, não para cima, em direção às mais altas realizações das habilidades artísticas e do espírito humano, mas para baixo, em direção à sua desintegração em uma frenética e insidiosa “novidade”. Para decorar os espaços públicos, colocamos esculturas que pretendem que a feiúra pura merece a nossa atenção – e isso já não nos surpreende mais. No entanto, se visitantes do espaço captassem nossa música através das ondas, como poderiam adivinhar que os terráqueos uma vez tiveram um Bach, um Beethoven ou um Schubert, nomes que atualmente estão abandonados como se estivessem desatualizados e obsoletos?

 

Se nós, os criadores de arte, nos submetermos obedientemente a esse declínio, se deixarmos de valorizar a grande tradição cultural dos séculos anteriores, juntamente com os fundamentos espirituais dos quais procedeu essa nobre tradição – estaremos contribuindo para uma perigosíssima queda do espírito humano na terra, para uma degeneração da humanidade em uma espécie de estado inferior, mais próximo do mundo animal. E, no entanto, é difícil crer que permitiremos que isto ocorra. Mesmo na Rússia, tão terrivelmente enferma agora (1993), esperamos que, após o coma e um período de silêncio, possamos sentir o sopro da literatura russa renascendo, e observar em nossos irmãos mais jovens a chegada de forças novas e frescas vindo em nosso auxílio.

 

Kyrie eleison.

terça-feira, 13 de junho de 2023

Comentários Eleison: TESTEMUNHO DE UMA FAMÍLIA

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXXX (830) – 10 de junho de 2023

 

TESTEMUNHO DE UMA FAMÍLIA


Quando um homem deixa Deus guiar, sua família o segue,

E a vida familiar torna-se muito menos esvaziada.

Papai satisfaz as necessidades dos filhos e da esposa,

Para que Deus os leve a todos para a vida eterna.

 

O autor da longa citação que se segue é um homem maduro que tem um pequeno negócio próprio em Londres, e cuja família recebeu grandes graças de Deus desde que ele respondeu a uma graça especial do Céu e passou a comportar-se como um pai de família católico, ao liderar a oração familiar católica. Há várias lições por aprender do que ele escreve: Deus existe, e continua agindo, especialmente por meio de Sua Mãe. A família humana ainda é como Ele a projetou, e o pai de família segue tendo de liderá-la para o Céu. É natural, e não antinatural, que esposa e filhos o sigam. E para restaurar esta ordem dada por Deus no lar, um instrumento fundamental é o Santo Rosário de Nossa Senhora. Se as almas modernas sofrem de desordem no lar, depende antes de tudo do pai apontar para o Céu e restaurar a ordem, com sua oração, sua fé e seu exemplo.

 

Aos 49 anos, casado e com seis filhos, eu era católico na teoria, mas meu catolicismo era do tipo “o inferno não é real – apenas não seja Hitler, e você ficará bem”. Então recebi um conselho muito gentil, mas firme, de (tenho certeza) Nossa Senhora, que me mostrou que a vida católica que eu levava não era suficiente, pois o Inferno é real, e eu estava a caminho dele... Logo em seguida assisti à minha primeira Missa Tradicional em Latim, e pouco tempo depois participei, entre cerca de 40 homens, de um final de semana de palestras proferidas por um padre tradicional. Todas as palestras valeram a pena, mas o presente foi sentar para almoçar com os outros homens, quase todos, como eu, refugiados de meia-idade que foram chamados tarde para a Fé Tradicional. A maioria se fazia a mesma pergunta: por que demorou tanto para encontrar a verdadeira Fé? Eu pensei: se eu tivesse recebido isso a 20 anos atrás, meus filhos provavelmente ainda seriam católicos, frequentando a Missa, e assim por diante. Foi uma reunião agridoce.

 

Ao voltar para casa, disse à minha esposa que no dia seguinte faria algumas orações matinais. Ela se juntou a mim. Sem nenhum planejamento, encontrei uma pequena novena a São José e pedi algumas bênçãos ao meu padroeiro. Li uma página do Evangelho e ficamos sentados por cerca de dez minutos em silêncio diante de uma estátua de Nossa Senhora. Naquela noite, por volta das 19 horas, ajoelhei-me na sala e rezei o Rosário. Minha esposa, ao passar pela sala, se aproximou e se juntou a mim.

 

Na manhã seguinte, fiz as mesmas orações matinais com minha esposa, e dois dos filhos (que tinham então 14 e 15 anos) se juntaram a nós. Da mesma forma, à noite todos os filhos se reuniram na sala para rezar o Rosário. Não me recordo de ter feito nenhum anúncio ou pedido para que participassem. Se não me falha a memória, acho que apenas disse aos que estavam sentados na cozinha que iria rezar o Rosário na sala. Saí para fazê-lo, e todos eles simplesmente entraram lá. Na manhã seguinte, todos os cinco dos seis filhos, que moravam em casa (o mais velho estava no internato), apareceram para participar das orações matinais. E assim as coisas permaneceram basicamente desde então. O Rosário nunca foi interrompido. O antes e o depois da vida familiar são tão diferentes que concluí que Nossa Senhora enviou Graças para nossa casa.

 

Como essa ordem chegou ao nosso lar? Começou comigo querendo salvar minha alma e, portanto, dando uma liderança geral para a oração familiar e depois o Rosário. Minha esposa seguiu o marido naturalmente, e depois os filhos seguiram nosso exemplo, sem nenhuma ordem dos pais. Pude observar como foram seguindo meus passos e compartilhando meu alívio por saber que o Céu, o Inferno, a morte e o Juízo são todos verdadeiros, para que ajamos retamente. Meu filho mais velho (19 anos) agora está pensando seriamente no sacerdócio, e minha filha mais velha quer desistir da Universidade de Cambridge, onde ela diz que está apenas “dando socos em um cenário feito para homens”. Em vez disso, ela quer “aprender finalmente habilidades úteis para o matrimônio e a maternidade”. A segunda filha (18) está planejando um “passeio de freiras” aos conventos da França, pois pensa que a vida de clausura a está chamando. Três anos atrás, nenhuma dessas crianças estaria pensando dessa forma, eu garanto. É tudo um milagre da Graça.

 

Por que minha família? Como disse Agostinho, não faço ideia. Mas, como disse Agostinho, é melhor eu fazer algo a respeito!

 

Kyrie eleison.

terça-feira, 6 de junho de 2023

Comentários Eleison: MODERNISMO MORTÍFERO

 

Por Dom Williamson

Número DCCCXXIX (829) – 3 de junho de 2023

 

MODERNISMO MORTÍFERO


Se a verdade existe, nem sempre poderei ser terno.

Deverei fazer a guerra. O Diabo não se rende.

 

Pode não parecer, mas há um fio condutor nos últimos cinco números destes “Comentários”:

 

824 (29 de abril) A “excomunhão” pela Roma modernista de todos os seis Bispos que participaram da cerimônia de Consagração de quatro sacerdotes da FSSPX em Écône, na Suíça, em 1988, foi intrinsecamente inválida.

 

825 (6 de maio) O Arcebispo Lefebvre enxergou isso claramente. Seus sucessores não conseguem enxergá-lo com a mesma clareza.

 

826 (13 de maio) Roma pretende que um modernista aceito dentro da FSSPX possa resolver o problema,

 

827 (20 de maio) ou que um ex-sacerdote da FSSPX, que é amigo íntimo do Papa, possa fazê-lo,

 

828 (27 de maio) mas não há acordo, por mais engenhoso que seja, que possa conciliar elementos inconciliáveis como o são a Tradição e o modernismo.

 

É evidente que toda a sequência depende de se considerar essas “excomunhões” de 30 de junho de 1988, seja pela natureza das coisas ou pela natureza da religião católica, “intrinsecamente inválidas”. Esta foi a posição assumida pelo Arcebispo sob o argumento de que, para a Igreja sobreviver, ela deveria ter Bispos capazes de defender a Fé Tradicional (que ele de forma nenhuma inventou) contra o erro mortal do modernismo inventado por clérigos cuja excessiva admiração pelo mundo moderno corrompeu sua fé católica, e que impuseram sua corrupção a quase toda a Igreja apoiados pela massa dos Bispos da Igreja Universal no Concílio Vaticano II (1962-1965).

 

Assim, imediatamente após o Vaticano II, a Igreja oficial tornou-se praticamente incapaz de fornecer em longo prazo Bispos capazes de defender a Tradição Católica, razão pela qual o Arcebispo consagrou quatro desses Bispos contra todas as aparências de desaprovação por parte de Roma. No entanto, o tempo mostrou, depois de sua morte em 1991, que ele estava certo. Sem a sua ação, onde estariam hoje a Tradição e a verdadeira Igreja? Mas, para salvarmos nossas almas, devemos entender por que o modernismo é tão mortal para a Tradição Católica. Se o motivo não estiver claro em nossas mentes, podemos ser tentados amanhã, como estão sendo os sucessores atuais do Arcebispo, a buscar alguma falsa reconciliação com os modernistas de Roma; ou podemos recusar depois de amanhã uma oferta de Deus do dom supremo do martírio nas mãos da cada vez mais criminosa Nova Ordem Mundial.

 

Ora, o Modernismo é o erro de querer adaptar a única e verdadeira religião do único Deus verdadeiro ao mundo que nos rodeia, que é essencialmente ímpio. O que subjaz mais profundamente ao modernismo é o protestantismo, que, com Lutero, se desfez da única religião verdadeira. Ao desfazer-se da Igreja Católica e de grande parte de sua doutrina essencial, os protestantes abriram as portas para o liberalismo, pois em todas as regiões onde prevaleceram contra a resistência católica nas guerras religiosas que se seguiram, eles romperam o monopólio da Verdade nos corações e nas mentes das pessoas. Como resultado, a falsidade na religião foi então estabelecida em partes significativas da Cristandade, antes unidas na religião, de tal maneira que passou a poder competir com a verdade católica.

 

Assim surgiu a próxima grande religião falsa, mais conhecida como liberalismo. A mensagem do liberalismo para católicos e protestantes era: “Parem com as guerras religiosas, parem de lutar uns contra os outros, deixem de levar a religião tão a sério. A paz na terra é melhor do que a paz no Céu. Vivam e Deixem Viver. Tolerância!”. Esta mensagem tornou-se popular. Incorporada na maçonaria, sociedade secreta criada em Londres em 1717, espalhou-se rapidamente pelas colônias inglesas na América e na França, onde teve uma enorme influência nas revoluções americana e francesa de 1776 e 1789, respectivamente. Ambas as revoluções desempenharam, por sua vez, um papel fundamental na eliminação da antiga ordem católica para abrir caminho para a Nova Ordem Mundial de hoje. Mas este princípio de “liberdade religiosa” transforma as mentes em mingau, pois se as ideias religiosas não são sérias, que ideias são sérias?

 

Juntos, o protestantismo e o liberalismo criaram um “admirável mundo novo”, contra o qual a verdadeira Igreja Católica desenvolveu uma corajosa ação defensiva de combate, especialmente na figura do Papa São Pio X no início do século XX. Mas, no final, até os clérigos católicos bendisseram a liberdade religiosa no Vaticano II com seu documento conciliar sobre a “dignidade humana”. O protestantismo e o liberalismo engendraram o modernismo. O modernismo triunfou. Mas é absolutamente oposto à fé católica. Os dois são absolutamente inconciliáveis.

 

Kyrie eleison.