Por Dom Williamson
Número
O QUE É REALIDADE? – II
Deus
abençoe os professores que ensinam tal como vivem,
Que não produzem ideias estúpidas.
O
que estes “Comentários” sugeriram fortemente na semana passada é que, a julgar
pelo que é a realidade, o senso comum é muito superior aos chamados cientistas
e intelectuais. Quanto aos “cientistas”, isto se deve ao fato de as suas mentes
estarem, normalmente, confinadas à matéria, ou às coisas materiais. Das coisas
espirituais ou “invisíveis”, como diz o Credo Niceno, a maior parte de suas
mentes não tem nem ideia. Isso faz com que sejam maus juízes da realidade na
parte mais elevada desta. Quanto aos “intelectuais”, a maior parte de suas
mentes está aprisionada por Kant (1724-1804), rei virtual dos departamentos de
filosofia das “universidades” modernas, que fazem questão de desprezar o senso
comum. Isso porque o nosso senso comum pode ser definido como a nossa
compreensão natural, e dada por Deus, das realidades que nos rodeiam entre o
nascimento e a morte; e especialmente desde o final do século XVIII, o homem
tem feito guerra a Deus e à natureza. É por isso que, hoje, o senso comum está sendo
constantemente varrido da mente dos homens pelos seus supostos líderes, de modo
que, por exemplo, os homens devem ser femininos e as mulheres devem ser
masculinas, e as crianças devem mudar de sexo.
No
entanto, como pode o que o homem comum ainda tem de bom senso fazer frente aos
estudos e ao saber dos “filósofos”? Não seria como se um time de futebol amador
quisesse derrotar um time de profissionais? Normalmente, assim como os
profissionais de qualquer esporte derrotarão facilmente os amadores, os homens
comuns seguirão seus líderes, e aquele que pretender seguir o seu bom senso na
sociedade atual será facilmente persuadido de que está errado. Contudo,
Aristóteles (384-322 a.C.), um filósofo verdadeiramente grande por sua análise
da realidade ainda hoje em grande parte válida, disse uma vez dos seus colegas:
“Não há estupidez que já não tenha sido exposta por algum filósofo”. Assim,
quando se trata dos princípios filosóficos da vida, os profissionais nem sempre
têm razão.
Distingamos
dois significados da palavra “filosofia”. Pode significar a atividade
intelectual de homens que pensam, estudam, leem e escrevem livros
frequentemente nas universidades, ou seja, os filósofos profissionais. Ou a
filosofia de um homem pode significar os princípios pelos quais, consciente ou
inconscientemente, ele vive, e uma vez que nenhum homem pode existir sem ter
alguns desses princípios para viver, então, neste segundo sentido, alguma
filosofia pertence a todo o homem vivente, amador ou profissional.
Ora,
esses dois sentidos não são iguais. No primeiro sentido, se um filósofo está a
escrever um livro, pode estar a fazê-lo por uma variedade de motivos que não o
de analisar a realidade. Pode estar escrevendo filosofia para ganhar a vida, ou
para ganhar dinheiro, ou para tornar-se famoso, e assim por diante. E, nesse
caso, pode ou não acreditar no que está a escrever, pode estar escrevendo o que
sabe ser um disparate, muito distante do que sabe ser real. Em todo caso, quer
que as pessoas o levem a sério, pelo que deve, pelo menos, fazê-las pensar que
está a escrever o que acredita ser real. Logo, posso não saber se ele está sendo
verdadeiro ou não.
Assim,
se eu quiser saber o que o filósofo profissional realmente pensa, recorrerei ao
segundo sentido da palavra, e em vez de ouvir o que ele diz, ou apenas ler o
que ele escreve, observarei como ele vive, porque isso me dirá o que ele
realmente pensa. Eis, naturalmente, a razão pela qual o exemplo pessoal é muito
mais revelador e persuasivo do que meras palavras. Se o Arcebispo Lefebvre fez
tantos bons sacerdotes, foi, sobretudo, pelo seu próprio exemplo. Assim, se eu
quiser saber o que um determinado filósofo efetivamente pensa ser a realidade,
observarei as suas ações em vez de ouvir as suas palavras.
Finalmente,
chegamos a esses “filósofos” que ensinam, seguindo Kant, que a mente humana não
pode conhecer o que está por detrás das aparências das coisas. Como é que eles
agem? Será que vivem como se não soubessem o que é a água para lavar ou o café
para beber? É claro que não. Como poderia Kant ter caminhado todas as manhãs
para a Universidade de Königsberg se não soubesse a diferença entre uma porta e
uma parede, entre uma escada e uma cadeira? Nunca poderia ter vivido se tivesse
levado a sério as suas próprias estupidezes. A enorme vantagem de Santo Tomás
de Aquino é que o seu sistema corresponde ao senso comum. O “Doutor Comum” de
Deus corresponde ao sentido comum dado por Deus.
Kyrie
eleison.
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