Por Dom Williamson
Número DCCCXXXV (835) – 15 de julho de 2023
DOIS TIPOS DE BISPO – I
Se é dos inimigos da Verdade que
provêm os Bispos,
Será realmente que estes estarão
sempre defendendo a Fé?
Tanto
a Neofraternidade Sacerdotal São Pio X como os padres que a deixaram para
juntar-se ao movimento não estruturado conhecido como “Resistência” estão bem
cientes de como os Bispos são indispensáveis para a sobrevivência da Igreja
Católica. No entanto, eles têm ideias bastante diferentes sobre como garantir
que haverá tais Bispos no futuro. O Vaticano II separou a Autoridade Católica
da Verdade Católica, uma divisão que está no centro da crise que a Igreja sofre
continuamente desde os anos sessenta. De um modo geral, a Neofraternidade prioriza
a Autoridade em vez da Verdade (sem abandonar completamente a Verdade),
enquanto a “Resistência” prioriza a Verdade em vez da Autoridade (sem abandonar
completamente a Autoridade). Desse modo, a Neofraternidade ainda está esperando
a aprovação romana ou conciliar para ter os novos Bispos de que precisa
desesperadamente, enquanto a “Resistência” está fazendo Bispos para si mesma,
sem essa aprovação, como o fez o Arcebispo Lefebvre para a Fraternidade
original em 1988, com grande sucesso para a Fé.
Para
provar que a Neofraternidade continua esperando a aprovação de Roma para ter
novos Bispos, deve ser suficiente uma citação do Bispo Fellay em uma entrevista
realizada no ano passado a um jornalista espanhol em Madri. Questionado sobre o
que fará para ter novos Bispos, sua resposta foi, substancialmente: faremos
exatamente o mesmo que o Arcebispo Lefebvre fez em seu tempo. Quando surgir a
urgência e a necessidade, faremos como ele fez, recorrendo a Roma e, depois,
dependendo da resposta, faremos como o Bom Deus nos disser. Vejo uma nova
abertura, que pode ter se tornado mais visível nos últimos anos, ou seja, não
descarto que num futuro próximo Bispos da Igreja Católica nos apoiem mesmo em
público, e se isso acontecer, pode passar a ser desnecessário que a Fraternidade
consagre seus próprios Bispos.
Dois
pontos merecem comentários aqui. Em primeiro lugar, é verdade que o Arcebispo
negociou com Roma em maio de 1988, a fim de obter uma luz verde da Autoridade romana
para a planejada Consagração de quatro Bispos para a Tradição, ou seja, para a
Verdade. No entanto, em determinado momento dessas negociações, ele percebeu
que o cardeal Ratzinger estava protelando tanto para fixar uma data para as Consagrações,
que aquilo na prática equivalia a não conceder a permissão teórica de Roma para
ter um Bispo. Naquele momento ficou claro para o Arcebispo que a autoridade
romana se recusava a velar pela Verdade, e até a sua morte, em 1991, ele suspendeu
todo contato com os romanos, a menos até que eles retornassem à fé católica, segundo
ele mesmo disse. Será que agora, em 2023, eles retornaram? Obviamente não –
Pachamama e Traditionis Custodes são somente dois exemplos de sua guerra
contra a Verdade Católica, que está mais acirrada do que nunca. Então, como Dom
Fellay pode afirmar que está fazendo “exatamente o mesmo” que o Arcebispo?
E,
em segundo lugar, na citação acima, Dom Fellay não só tem uma ideia muito
diferente da do Arcebispo sobre o que a Autoridade ímpia fará para servir à Fé,
como também contempla claramente a possibilidade de a Neofraternidade recorrer
a consagrações episcopais de bispos da Neoigreja, que normalmente terão sido
consagrados bispos somente no rito pós-conciliar de consagração, fabricado por
maçons como Dom Bugnini para introduzir uma sombra de dúvida quanto à sua
validade. O Bispo Fellay realmente acha que o Arcebispo teria recorrido a um
rito tão inseguro?
Em
sentido contrário, a “Resistência” seguiu o exemplo pioneiro de Dom Lefebvre em
1988, assegurando seus próprios Bispos para o serviço da Verdade e da Tradição.
Entre 2015 e 2017 foram sagrados os Bispos Faure, Tomás e Zendejas, que
seguramente têm trabalhado com êxito pela Tradição desde então, e mais
recentemente, mas em privado, o Bispo Ballini para a Irlanda (2021) e o Bispo Stobnicki
para a Polônia (2022). Mas por que a privacidade? De fato, a privacidade não é
natural para as cerimônias de Consagração de Bispos católicos, mas os anos de 2020
não são mais os anos de 2010, e muito menos os anos de 1980. As razões foram,
em primeiro lugar, permitir que um número crescente de católicos acompanhasse a
necessidade urgente da Igreja de seguir o exemplo do Arcebispo Lefebvre, dando
mais prioridade à Verdade e menos importância àquela Autoridade conciliar que
está sem a Verdade; e, em segundo lugar, adiar a agitação de um pano vermelho
sob o nariz da Nova Ordem Mundial, que é mais poderosa e mais maliciosa a cada
dia que passa. Aqui está a breve autobiografia do Dom Stobnicki:
Nasci
em 1987 em uma família católica polonesa. Terminei o ensino escolar em 2006 e
entrei para a FSSPX seguindo o conselho de velhos padres poloneses. Em 2008,
fui abruptamente expulso do seminário da FSSPX em Zaitzkofen, porque estava em
contato muito estreito com Dom Williamson, mas continuei minha formação
sacerdotal sob a direção desses velhos padres poloneses e de dois Bispos
tradicionais. Enquanto isso, em 2014 me formei na faculdade de direito e trabalhei
algum tempo como advogado. Em 2013 entrei em contato novamente com Dom
Williamson, quando ele foi expulso da FSSPX. Em 2016 começou a vir para a Polônia
com certa regularidade, e achou por bem ordenar-me sacerdote no dia primeiro de
julho de 2017. Nos cinco anos seguintes, tais foram os frutos do meu ministério
sacerdotal na Polônia (e – certamente um bom sinal – a violenta oposição a ele),
que fui consagrado por ele como Bispo, em privado, mas com testemunhas, em 15
de agosto de 2022, com um colega sendo também ordenado Padre por Dom Williamson.
Servimos agora a 17 centros de Missa na Polônia, que incluem até o momento nove
cerimônias de Confirmação e a reordenação condicional de seis sacerdotes. A
oposição violenta também continuou, incluindo um possível atentado com um corte
em um pneu do meu carro. Estabelecer a “Resistência” na Polônia tem sido um
trabalho árduo, mas meu colega e eu agora estamos ajudando a cuidar de muitas
boas almas. Graças a Deus e a Nossa Senhora, Rainha da Polônia.
Kyrie
eleison.
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